A televisão sempre foi por excelência a mensageira do desporto. Foi através dos ecrãs que vivemos momentos memoráveis, como a final do Euro 2016, quando a seleção nacional alcançou a glória.
No entanto, a tradição de acompanhar os grandes eventos desportivos pela televisão está a mudar e as plataformas de streaming entraram com força no campo das transmissões desportivas.
Esta transformação chega, como muitas outras, através do avanço tecnológico e da transformação digital da sociedade. O entretenimento que as plataformas de streaming como a Netflix oferecem. Contudo, o novo passo está na fusão do streaming com transmissões em direto. A grande empresa neste sector é a Twitch, um braço da Amazon no ramo do entretenimento online.
A Twitch nasceu e cresceu no mundo gaming. A primeira função da plataforma foi a transmissão de gameplays e campeonatos profissionais de desportos eletrónicos. Neste segmento, o sucesso já era enorme, o que obrigou a uma mudança no mercado e os seus principais concorrentes, YouTube e Facebook, começaram a apostar nas transmissões ao vivo.
No entanto, a transformação também chegou ao “transformador”. Antes um território maioritariamente gamer, a plataforma foi invadida por influenciadores que viram na transmissão em direto, no chat interativo e na ferramenta de doações, funções fundamentais para aumentar o contacto com o público e, consequentemente, os ganhos.
No pacote de mudanças, o aumento do público foi a chave para abrir portas para as novas formas de transmissão na Twitch. Grandes clubes do desporto rei, como o Barcelona e o Real Madrid, já embarcaram nesta onda e têm investido nos seus canais oficiais na plataforma. Por exemplo, em Portugal, o Porto já transmitiu um jogo na plataforma, o duelo contra o Olympique Lyonnais.
No entanto, o grande evento partilhado pela televisão e pela Twitch foram os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Para a transmissão foi criado um canal especial dedicado ao evento. No conteúdo transmitido estavam entrevistas com os atletas, competições e melhores momentos.
Outra competição com um acordo com a Twitch para a transmissão dos seus jogos é a Liga Nacional de Futebol Feminino Americana (National Women’s Soccer League – NWSL). O negócio foi fechado em 2020 e tem validade de 3 anos. Desta forma, todos os 108 jogos de cada temporada serão transmitidos em direto pela internet.
Noutros países, como o Brasil, a Twitch em parceria com influenciadores disponibiliza jogos da NBA e dos campeonatos de futebol local. O maior streamer brasileiro, Alexandre “Gaules”, transmite e mantém uma constante interação com o seu público.
Esta fórmula revela-se um sucesso, a transmissão de New York Knicks e Atlanta Hawks, pelo quinto jogo dos play-offs, no canal do Gaules, teve uma média de 113 mil espetadores e picos de audiência de 142 mil pessoas.
Outros desportos que ganham espaço na plataforma da Amazon são menos físicos, no entanto, tão ou mais mentais que o futebol. Um dos favoritos do público é o xadrez, que conta com uma massa de adeptos que em 2020 consumiu cerca de 38 milhões de horas de xadrez na Twitch. A popularidade do jogo deve-se à quantidade de plataformas que transmitem partidas amistosas e torneios completos com a presença de grandes mestres, incluindo Magnus Carlsen, o atual líder do ranking mundial.
O poker é outro dos jogos mentais que ultrapassou a fronteira das mesas e ganhou muitos fãs na plataforma de streaming. Para além dos aficionados que procuram entretenimento, também estão online muitos profissionais, como Georgina James, que tem uma história curiosa com o jogo; conheceu o poker através da Twitch e, hoje em dia, é uma jogadora profissional e streamer.
Com efeito, é evidente que a forma de transmissão dos grandes eventos desportivos, bem como a forma de consumir estes conteúdos, está a mudar. E, a televisão já começa a sentir a aproximação de concorrência pesada e isso deve-se, em boa parte, à nova forma de consumir conteúdos.
Neste sentido, a transformação digital transforma a sociedade, e os hábitos de consumo são extremamente transformados. O que leva à faixa etária mais jovem da audiência habituar-se a transmissões mais leves e descontraídas, deixando de lado o modelo tradicional.